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Fibroplasia esclerosante eosinofílica: você já ouviu falar nesta doença? Últimas
19/03/2024 | Terça-feira
Fibroplasia esclerosante eosinofílica: você já ouviu falar nesta doença?

Alguma vez na sua rotina clínica você se deparou com um diagnóstico feito por algum colega ou sugerido por um exame histopatológico e pensou: "Nossa! Nunca ouvi falar nesta doença!"

Certamente todos nós já passamos por isto, porque não tem como conhecermos todas as doenças que existem, e porque muitas enfermidades são raras, e talvez nunca cheguemos a ver um caso. Por outro lado, quanto mais ampliarmos nosso conhecimento sobre as doenças, maior a chance de realizarmos o diagnóstico ao nos depararmos com a enfermidade. Afinal, só podemos diagnosticar aquilo que conhecemos. Neste contexto, trago este artigo publicado recentemente no renomado Journal of Veterinary Internal Medicine, que trata de uma enfermidade felina pouco comum na nossa rotina: a fibroplasia esclerosante eosinofílica gastrointestinal. E aí vet, já tinha ouvido falar desta doença?

Boa leitura, vet!
Fibroplasia esclerosante eosinofílica: você já ouviu falar nesta doença?

A Fibroplasia esclerosante eosinofílica gastrointestinal é uma enfermidade que ocorre em gatos, sendo caracterizada por massas no trato gastrointestinal, mesentério e linfonodos abdominais.

Este artigo descreve as características clínicas, laboratoriais, tratamento e prognóstico de 60 pacientes com doença. A idade de apresentação variou entre 3 e 9 anos de idade, com média de tempo de evolução dos sintomas de 90 dias. Os sinais clínicos mais comuns foram perda de peso (60%), hipo ou anorexia (55%), vômitos crônicos (37%), letargia (35%) e diarreia (27%). Massas foram localizadas no intestino delgado (32%), estômago (27%), junção ileocolica (15%), cólon (10%), linfonodo (8%) e mesentério (8%).

Cerca de 15% dos animais tinham mais do que uma massa. Eosinofilia foi detectada em 50% dos gatos e hipoalbuminemia em 28%. Em 37% dos pacientes foi realizado ressecção cirúrgica da massa e 98% foram submetidos a terapia com corticoide.

Não houve diferença na taxa de sobrevida de animais submetidos a cirurgia em relação aos que fizeram apenas tratamento medicamentoso. Quase 90% dos animais estavam vivos no momento da confecção do artigo. Desta forma, a Fibroplasia esclerosante eosinofílica gastrointestinal é um importante diagnóstico diferencial para a presença de massas abdominais em pacientes felinos, com bom prognóstico de sobrevivência.

Grande abraço!

Professor Paulo Ferian.

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Fazer ou não exames pré-anestésicos? Últimas
19/03/2024 | Terça-feira
Fazer ou não exames pré-anestésicos?

Tem uma parada que intriga muito veterinário (e eu me incluo nessa lista de Vets) que se perguntam o que realmente deve ser feito de exame pré-anestésico, por isso escolhi este tema para nossa conversa de hoje!


Então vamos lá, começando com polêmica:

   Fazer ou não exames pré-anestésicos?

Neste estudo lá de 2008, mas ainda muito citado em referências atuais o autor coloca a seguinte afirmação na conclusão:


“As alterações reveladas pela triagem pré-operatória geralmente eram de pouca relevância clínica e não acarretavam grandes alterações na técnica anestésica.”


Talvez a linguagem mais científica do artigo pode ter te deixado confuso, então vou escrever ao pé da letra o que eles dizem: não muda nada na conduta fazer exame pré-anestésico!

Chocante né?

Bom eu discordo, e acredito que você também, afinal não fazer nenhuma triagem de saúde no paciente cão ou gato, e se dá uma zica na anestesia, vamos nos sentir culpados e não queremos causar danos ao nosso paciente! Também não queremos nos causar dano jurídico, e ficar sem nenhuma forma de defesa caso algo ruim aconteça, 

Então, eu discordo!

Mas preciso defender em parte os autores do estudo, eu entendi o que eles quiseram dizer em uma conclusão (na minha opinião equivocada), mas nas letras miúdas do texto tem algo muito importante que precisa ser considerado:

O que eles detectaram na pesquisa foi o seguinte:

  • 95% dos 772 cães tinham algum exame fora do intervalo de referência
  • 0,9% destes de fato tinham alguma doença comprovada

Ou seja, se mal interpretados esses resultados, podem gerar intervenções (tratamentos desnecessários), e por isso, nesse estudo eles tiraram essa conclusão ao meu ver, meio radical!


Mas não podemos esquecer de um princípio básico de interpretação de exames, que essa figura ilustra bem demais:

Fazer ou não exames pré-anestésicos?

Basicamente, o que devemos ter em mente é que resultado fora do intervalo de referência não significa doença, pois podemos ter 5% da população de indivíduos fora do intervalo e ainda sim saudável!

Então, esse é meu objetivo aqui hoje, chamar atenção de vocês sobre a necessidade de avaliar números no exame como números, e alinhados com histórico, exame físico e conhecimento de fisiologia e fisiopatologia; só assim você vai ser um bom interpretador de exames e deixar de ser um fanático por colocar flexinha de aumentado e diminuído mas no fundo não saber o que fazer com aquela informação. 

Então, se você quer iniciar sua jornada de domínio na interpretação de exames e conduta assertiva nos seus casos de rotina, te convido a participar e assistir nossas aulas gratuitas semanais, é só clicar neste link e cadastrar, assim posso te avisar sobre as nossas aulas semanais e você não perde nadinha, clica aqui e cadastra:

https://novo.rcvet.com.br/conteudos-gratuitos 

Agora, me conta, você costuma solicitar exames pré anestésicos? Qual sua opnião sobre o autor citado que contra-indica a triagem pré anestésica com exames?

Um grande abraço prof Helena

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 Pare de prescrever metronidazol para o paciente com diarreia! Últimas
26/05/2024 | Domingo
Pare de prescrever metronidazol para o paciente com diarreia!

Que atire a primeira pedra o veterinário que não sente aquela coceira na mão pra prescrever um antibiótico quando atende um cão com diarreia aguda, não é mesmo?


Este é um quadro que atendemos com certa frequência na nossa rotina veterinária, e nestes casos, o uso empírico do metronidazol tem sido uma prática comum na medicina veterinária há muitas décadas!

Mas a pergunta que não quer calar: Será que seu paciente realmente se beneficia dessa prescrição? Estudos recentes avaliando seu uso em casos de diarreia sugerem que o metronidazol é utilizado de forma inadequada em muitos casos. E hoje trago um artigo recente que fez uma revisão das evidências do uso de metronidazol e outros antibióticos na diarreia aguda na literatura humana e veterinária, bora conferir?

 Pare de prescrever metronidazol para o paciente com diarreia!

Bom, primeiro ponto a ser destacado é que a diarreia aguda pode ser causada por diversas fatores, como estresse, indiscrição alimentar, parasitismo gastrointestinal, alterações ambientais, mudanças rápidas na dieta ou administração de medicamentos, entre outras causas, e a maior parte dos casos é leve e autolimitada. E o que isso quer dizer? Que a grande maioria se resolve dentro de 2 dias!


Neste artigo, os autores mostram que o uso do metronidazol no tratamento de cães com diarreia aguda contrasta com as recomendações feitas para pacientes humanos. As diretrizes do Colégio Americano de Gastroenterologia desaconselham o uso empírico de antimicrobianos em humanos, uma vez que as evidências disponíveis não suportam seu uso.


Tá, mas e na veterinária? Os autores deste artigo fizeram uma revisão dos últimos trabalhos que avaliaram os efeitos do metronidazol no tempo de resolução da diarreia e verificaram que a maioria dos estudos não consegue identificar melhora significativa nos desfechos clínicos associados a administração do metronidazol! Dá uma olhada no que eles encontraram:

 Pare de prescrever metronidazol para o paciente com diarreia!

Traduzindo o gráfico acima: Dos estudos avaliados, 1 demonstrou que há melhora na velocidade da resolução do caso com o uso de metronidazol, 2 mostraram que o metronidazol não teve efeito na velocidade de resolução em comparação com placebo ou probióticos e 4 estudos mostraram que outras intervenções aceleraram a melhora do quadro clínico quando comparadas com o metronidazol!

Consegui te convencer de que o uso indiscriminado de metronidazol pra qualquer paciente apresentando diarreia não serve pra nada?


Talvez você esteja pensando, “eu sempre fiz e dá certo”, mas será que dá certo mesmo? Será que seu paciente não ia melhorar mesmo sem o uso do antibiótico? E nesse momento você pode estar pensando “ah, mas mal não faz” Será? Dá uma olhada no que o artigo fala sobre isso Leia mais

Stent traqueal no colapso de traqueia: quando indicar? Últimas
10/06/2024 | Segunda-feira
Stent traqueal no colapso de traqueia: quando indicar?

Olá, Vet! Vamos a nossa newsletter da semana: hoje vamos falar sobre colocação de stent em pacientes que apresentam colapso de traqueia. E aí, será que essa é uma boa opção?

O colapso de traqueia é uma das enfermidades respiratórias mais importantes na rotina clínica de cães, ocasionando quadro de tosse crônica e dispneia, com prejuízo significativo da qualidade de vida e, em quadro graves, podendo oferecer risco de morte ao paciente.

O tratamento medicamentoso da doença consiste principalmente no uso de corticoides e antitussígenos. Por sua vez, o tratamento cirúrgico é realizado principalmente com a colocação de stents traqueais.  Uma dúvida comum em relação a abordagem cirúrgica desta enfermidade diz respeito a indicação do procedimento e quais as possíveis complicações. Vejam o que diz este artigo publicado recentemente no Journal of Veterinary Internal Medicine, pois ele pode auxiliar a esclarecer algumas dúvidas.

Boa leitura, vet!


Stent traqueal no colapso de traqueia: quando indicar?

Os stents vem e tornando uma modalidade de tratamento cada vez mais utilizada para abordagem de paciente com colapso de traqueia. Contudo, as complicações decorrentes do procedimento podem influenciar negativamente os desfechos dos tratamentos.

Neste contexto, o objetivo do trabalho foi realizar uma metanálise e uma revisão sistemática a respeito da prevalência das complicações que ocorrem em função deste procedimento. Para tanto, foi revisada a literatura médica no período entre 2000 e 2020 e mensurada a prevalência das 8 principais complicações conhecidas para o procedimento: fratura de stent, migração de stent, recidiva do colapso, formação de granuloma, infecção traqueobronquial e agravo da tosse.

As prevalências encontradas foram: tosse (até 99%), infecções traqueobronquiais (24%), granuloma (20%), fratura de stent (12%), recidiva do colapso (10%) e migração de stent (5%).Desta forma, concluiu-se que a colocação de stent foi associado com alto risco de desenvolvimento (ou agravo) de tosse e moderado risco de infecções e granulomas. Como estas complicações têm um impacto importante na qualidade de vida dos pacientes, os tutores devem ser alertados que a colocação de stent é uma estratégia de segunda linha de tratamento, e que não necessariamente diminuirá a necessidade de uso de medicações e acompanhamento veterinário.

Desta forma vet, fique atento na escolha do paciente para indicar este tipo de procedimento. Procure reservar esta estratégia para cães com dispneia grave com risco de vida e/ou refratários às tentativas de tratamento medicamentoso.

Professor Paulo Ferian.

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